domingo, 5 de julho de 2009

Pela renovação da Antigüidade Clássica

Com a nossa capacidade de reinventarmos o que está posto, acabamos criando uma nova origem para a palavra tragédia, que na Grécia antiga significava “canto do bode” (oucanto ao bode”, segundo alguns). Mas como não pega bem, nos dias de hoje, ficarmos cantando para caprinos (prática de gregos ímpios e bêbados), trocamos o CD e passamos a ouvir outra música e a ter outro objeto de veneração. A nova onda é o “canto ao BOPE” (oucanto do BOPE”, tanto faz).

Nestas últimas semanas, parentes e amigos, reacionários e progressistas, bebês e idosos foram unânimes nas considerações elogiosas sobre a mais recente febre do mercado paralelo cinematográfico nacional: o filme Tropa de Elite. Admito que tentei resistir, mas o cerco ficou insuportável. Após conversar com um taxista, que regozijava-se e contorcia-se ao descrever cada cena do filme, decidi ceder aos encantos dos amigos camelôs. Antes disso, porém, tive a oportunidade de efetuar a apreensão de um DVD, portado por um cidadão-aluno meu, uma criança de 11 anos que tentava, entusiasticamente, reproduzir em seu caderno escolar o crânio perfurado com um punhal, desenho lúdico que ilustrava a mídia pirata.

Ansioso
por compartilhar das mesmas emoções vividas pelos amigos, embarquei na história narrada e curti cada “pipoco” dado por vagabundos e policiais, cada tapa e tortura empreendidos pelos agentes do BOPE. Não tenho dúvidas, Tropa de Elite é um ótimo filme de ação. Ao final da película, tive a quase certeza de que os problemas da violência estariam resolvidos se os “homens de preto” fossem em maior número e tivessem mais espaço para agir. A conclusão é lógica: se reprimirmos os pobres, os policiais corruptos e a classe média consumidora (travestida de elite no filme), conseguiremos sufocar, estrangular e extirpar o cancro social das drogas. me imagino com um fuzil na mão, dando tiro como um Capitão Nascimento. Celebremos a mais nova e genuína tragédia nacional!

A pergunta da vez, no entanto, feita por um delegado da Polícia Civil, é a seguinte: o Rex morde o dono? Se o dono é corrupto e bandido, o Rex vai latir, morder e matar somente quem o dono quiser. Isto me parece mais lógico!

Abraços

Marcmagand


PS: Cabralito, nosso governador, disse ter ficado impressionado com as cenas de corrupção e tortura, com a bagunça nos batalhões e com o estado precário das viaturas policiais. É espantoso como a arte pode ser didática para os políticos ingênuos e bem-intencionados (inclusive para aqueles que recebem propina desde a mais tenra idade).

Nenhum comentário: