domingo, 28 de novembro de 2010

“A nova Roma é aqui” ou “Maledicências da grande mídia burguesa” ou “Entre bárbaros e romanos”

Digito a palavra “Nero” no Google e as seis primeiras opções fazem
referência ao software que grava CDs. Coitado do nosso imperador
romano!
Na verdade, eu queria obter mais informações sobre o amigo piromaníaco
para tirar a limpo aquela história do fogo em Roma. Qual não foi minha
surpresa quando descobri que a culpa de Nero, ao que tudo indica, foi
fofoca de Plínio (o Velho), um historiador que, como todos os outros,
inventa maledicências sobre as grandes figuras do passado. Segundo
Tácito, que nem estava lá para tossir com a fumaça, a combustão durou
cinco dias. Quatro distritos da cidade ficaram destruídos e sete muito
danificados.
O que ninguém fala – este é meu ponto – é que Nero voltou rapidamente
para Roma, tirou bufunfa do próprio bolso para comprar material de
construção, abriu os portões de seu palácio para proteger os
desabrigados, levantou fundos para obter alimentos e ainda desenvolveu
um novo plano urbanístico para a capital do Lácio.
Caramba, ninguém percebe que o maluco foi o Lula da Antiguidade? Mas
os historiadores burgueses imperialistas do mundo antigo não quiseram
nem saber. O negócio era pichar o poder para vender periódicos nas
bancas de papiros.
Falei do personagem romano por conta dos atuais incidentes em terras
fluminenses. De uma hora para outra, dezenas, centenas de Neros
esquálidos pululam por todos os cantos. Lépidos e quase invisíveis,
plantam majestosas fogueiras na urbe, promovendo a barbárie que
desagrada patrícios e plebeus.
Mais uma vez, como não poderia deixar de ser, a mídia burguesa difama
e denigre (nada contra os afro-descendentes) os discípulos do camarada
latino. E sabem por que a grande imprensa faz isso? Por que os
dragõezinhos de hoje são da favela (ops, comunidade), são pobres,
negros, desdentados e pré-cotistas. Digo mais: essa grande mídia
caucasiana e aristocrática pretende esconder os grandes benefícios do
fogo purificador. Vamos aos fatos.
Graças aos candentes episódios dos últimos dias, diminuímos o número de
carros, ônibus e vans nas ruas. Está aí ótima alternativa para os
engarrafamentos estressantes. Não fossem essas fogueiras juninas fora
de época, os patrões não liberariam seus empregados mais cedo. Nós
progressistas deveríamos estar rindo à toa, afinal a tão sonhada
diminuição da jornada de trabalho foi colocada em prática por pressão
popular. PMs de folga e de férias cancelaram o churrascão e a
cervejada para dar pipocos pela cidade. Quem sabe agora eles perdem
aquelas barrigas grotescas? E a Marinha? Tempos depois da emocionante
Revolta da Armada (nos idos do século XIX) nossa mais antiga força
militar voltou a ter alguma utilidade. Até as 12 UPPs, que andavam
meio esquecidinhas em alguns poucos bairros privilegiados, voltaram a
ser tema de debates. Talvez esse fosse o pontapé necessário para que
esse mega-ultra-revolucionário projeto de segurança pública se
expanda para as mais de mil favelas do Rio. É o que prometem o
Cônsul Cabral e o pretoriano Beltrame.
Por essas e outras, discordo das críticas aos churrasqueiros de
automóveis. “Somando Forças” estes homens e mulheres (não podemos
esquecê-las) promoveram o Rio de Janeiro como nunca na história desta
unidade federativa. Ave, Neros!