domingo, 5 de julho de 2009

Cristo, o eleito

O povo brasileiro é realmente excepcional, pois conseguiu reeditar, em termos modernos e democráticos, a condição histórica de Jesus de Nazaré. Agora a verdade não se revelou por meio de línguas mortas e pretéritas, por intermédio de traduções equivocadas e confusas da Bíblia. Nos tempos modernos, Cristo foi eleito graças à mídia e aos milhões de telefonemas e cliques na Internet.

É fato, porém, que a democracia ainda apresenta suas imperfeições. No passado, o Redentor teve mais prestígio: em seu nome houve Cruzadas, sangrentos conflitos religiosos, extermínio de indígenas e outras iniciativas maravilhosas da humanidade, que procurava elevar o nome do Salvador. Nos dias de hoje, ao contrário, Cristo teve que se contentar com um terceiro lugar. À sua frente estão a Muralha da China, este fenômeno mundial que se expande com pastéis e bugigangas piratas, e Petra, na Jordânia, cuja escolha constitui um indício da força representada por aqueles povos terroristas vindos do Oriente Médio.

O bom de tudo isso é que os europeus e norte-americanos ficaram fulos. Andaram dizendo, inclusive, que o Brasil ganhou por ter mais de 180 milhões de habitantes, o que prejudicou países como a Espanha e a Grécia, cocozitos populacionais. Quem mandou se reproduzirem pouco?! A França contestou o número total de votos, insatisfeita que está com a não-eleição daquele esqueleto de lata que eles chamam de Torre. Os Estados Unidos, coitados... a Estátua da Liberdade, bem-representada nas iniciativas “libertárias” dos últimos 20 presidentes norte-americanos, não conseguiu chegar nem perto.

Devo admitir que não votei nem votaria no Cristo. Não que eu não goste deles (do bíblico e da estátua). Também não é por antipatia à cidade do Rio de Janeiro, afinal tenho orgulho de ser são-cristovense e carioca. Sei que poderá parecer exagero, mas a eleição do Cristo Redentor, obra que demorou pouco mais de cinco anos para ser finalizada, expressa um pouco do que somos: uns preguiçosos deslumbrados. Queremos ter maravilhas, queremos ser maravilhosos, mas nos esforçamos muito pouco para isso. O que vale, no fundo, são as aparências e as opiniões elogiosas da gringalhada espertalhona.

E o Lula, hem? Do jeito que ele gosta do Rio e do Brasil, deve ter votado secretamente no monumento ao Imigrante Italiano.

(Texto redigido em 17 de julho de 2007)

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