Não vou negar, os créditos são do presidente cefalópode. “Cortar na própria carne, se necessário” foi uma das afirmações mais fortes e impactantes do “samambaia-chorona”, quando teve que demitir o ministro cardeal Dirchelieu.
Pois é, amigos, deve ser realmente doloroso fazer um corte (ainda que ele não tenha sido feito de fato, no caso supracitado), mas às vezes parece necessário. No Brasil, país de canduras, branduras e rapapés, é praticamente impossível fazer cortes ou até mesmo críticas aos irmãos de fraternidade. Digo isso, não pensando na esquerda, como alguns poderiam imaginar, mas na base de sustentação desta, ou seja, no funcionalismo público.
Usuário de serviços públicos desde a mais tenra idade (nasci no hospital maternidade da Praça XV), percebo-os como algo imprescindível, fundamental se desejamos uma sociedade mais justa e democrática. O diabo nessa história é que o funcionalismo público não é uma abstração, não é um ente que paira, ideal e absoluto, sobre tudo e todos. Ordinário dizer que ele é composto por pessoas, por membros de uma dada sociedade e cultura que, no caso brasileiro, parecem não ter nenhum compromisso com a chamada República. Em tempos de faculdade soava mal, parecia reacionário fazer críticas aos simpáticos funcionários que deixavam a desejar no cumprimento dos seus deveres. Naquela época, a culpa máxima recaía sobre o sociólogo traidor, o mercenário que rifava todo patrimônio que estivesse à mão. Nos dias de hoje, contudo, não tenho maiores pudores em ser contundente com os “palhares”, “peixotos” e “mendonças” que pululam nas repartições públicas deste Brasil. Muitos são vagabundos, sim, são demagogos, sim! É muito fácil encontrar discursos afiados e progressistas mascarando práticas desleixadas e até mesmo desonestas. Não esqueço uma colega que afirmou preferir ganhar R$ 400,00 na escola pública a receber o mesmo valor na escola privada. Para meu espanto, o argumento foi o de que na pública ela poderia apresentar inúmeros atestados médicos, que lhe permitiriam fazer bicos por fora. Da mesma forma, já ouvi um policial civil dizer que participava de esquemas ilícitos com combustíveis porque seu salário, de R$1.400,00, era insuficiente para uma vida digna.
E assim abrimos janelas para o infinito; criamos, sem muita dificuldade, justificativas para nossos escorregões, nossa incompetência e falta de compromisso com a coletividade.
(Texto redigido em 24 de janeiro de 2008)