domingo, 12 de outubro de 2008

Os Santos de 2008

Utile quid nobis novit Deus omnibus horis”

Queria eu entender o latim! O fato é que achei interessante usar essa frase, mesmo sem compreendê-la, para falar sobre as eleições religiosas do Rio de Janeiro. Após a derrota do herege Crivella, as forças da tradição se voltam contra o apóstata maconheiro da zona sul. Os jornais de hoje estamparam em suas capas o cardeal da Fetranspor selando a paz entre o papa do ABC e o abjurado Eduardo Paes (abençoado por Bento XVI durante esta campanha). Sorridentes, uniram suas forças (com apoio das irmãs Jandira e Benedita) contra os verdes, os tucanos e os demoníacos, representados aqui no Rio pelo ímpio Czar Maia.

Em terras cristãs, amigos diversos buscam a santidade, almejam a alma impoluta por meio do voto branco ou nulo. Legítimo! Ninguém quer pôr as mãos ou os pés na lama. Que ela fique para os sórdidos políticos e para os pobretões que não podem fugir da mesma. E assim aliviamos nossas consciências, esbravejamos nossa indignação nos bares, sindicatos e praças, indicando a necessidade de uma futura e grande transformação!

Votos brancos e nulos, este é o caminho... Os números são impressionantes: somados abstenções, votos brancos e nulos, chegamos ao total de 30,66% de eleitores brasileiros insatisfeitos, indignados. No noroeste fluminense, reduto do progressismo canavieiro do Rio de Janeiro, um município chegou à impressionante marca de 77% de não-comparecimento às urnas. E sabem qual foi o resultado de toda essa indignação? Nula! Passou em branco (nada contra os grupos de caucasianos organizados).

O jogo pseudo-democrático não tem graça nem sentido para as cabeças pensantes, afinal voto eletrônico com identificação pessoal e eleição de matadores são provas contundentes de que não somos um país sério. Mas e ? O que fazer? (em 1902 essa era a pergunta do camarada Vladimir Ilitch) Não votar é um ato político, nãodúvidas. Mas se a democracia “bolinha de sabão” é limitada, a birra de não ir às urnas ou de votar em branco ou nulo também é! Alguém levará o título, nãojeito. A contrapartida deveria vir de movimentos organizados e qualificados, isto é certo. Mas onde estão? Muitos se encontram instalados no Planalto, guardados de molho para não incomodarem o governo mais popular da história recente deste país.

Desculpem-me os amigos, mas alguma infeliz escolha tem de ser feita. De um lado temos o ex-menudo do atual prefeito, um jovem político bem-articulado, técnico, inteligente, defensor de milícias e temente a Lula. Do outro, um senhor grisalho e insosso (para os padrões da esquerda) que recebe apoio do PSDB (ex-partido de Cabral e Paes) e, mais recentemente, do DEM.

O haraquiri parece uma boa saída. Ops, esqueci que não somos budistas nem xintoístas! O sacrifício cristão é mais adequado! Escolho o que me parece menos nocivo, afinal, como disse meu amigo Alex, a “Cannabis sativa” na merenda escolar pode ser um bom substituto para a ritalina. Quem sabe esses jovens estudantes ficam menos agressivos e mais atenciosos, prescindindo, assim, da aprovação automática?

Deus sabe o que faz!

Mais uma última semana eleitoral

Uma metralhadora na mão e uma idéia na cabeça! Este deveria ser nosso lema glauberiano na falta de políticos sérios. Sem estes dois itens básicos não conseguiremos qualquer tipo de mudança. nem falo em transformação, afinal as ingênuas esperanças esbarraram na ascensão petista em 2003. Algumas gerações foram sacrificadas (mais uma vez). Temos de recomeçar agora pensando em colher frutos num futuro ainda mais distante. É trágico, mas o drama não precisa ser grande.

Perder mais essa eleição municipal para Paes ou Crivella não será o problema. Problema maior está na crônica incapacidade sinistra de pensar e agir de maneira mais coerente e condizente com um espírito universalista e menos mesquinho. A falta de preparo e de densidade nas discussões ficam claras, tanto entre os candidados como entre os eleitores. Nestes termos, democracia não passa de bolinha de sabão, feita para ser frágil e efêmera, restrita ao período eleitoral. Ou não! Talvez tenhamos alcançado a verdaderia democracia. O povo nunca esteve tão satisfeito. Pobres desdentados e analfabetos têm seus televisores, computadores, carros, celulares e até diplomas universitários (viva o Prouni e a política de cotas!); estão inseridos no mundo moderno; sentem-se felizes. Fantasticamente popular, nosso presidente, o Smile barbudo, é quase uma unanimidade, um ser absoluto, um Luís XIV da idade contemporânea. Sinceramente não sei como o PT ainda não lançou um bonequinho de pelúcia do Lula, um molusco marinho sorridente para habitar as prateleiras infantis ao lado de seus amiguinhos Shrek e Monstros S.A.

Falo, falo, mas não digo o essencial. Nestas eleições municipais votarei em Gabeira, para decepção dos meus estimados amigos de esquerda. A Frente Carioca (PV PSDB PPS) representa nominalmente muito do que criticamos durante estes últimos anos, é verdade. Mas também é verdade que não estou desesperado, angustiado para ver MEU CANDIDATO no poder. Isso acontecia quando era petista, lulista e sebastianista.

O "senhor da tanguinha" nunca foi o candidato dos meus sonhos, mas tem sido o mais coerente e consistente durante este período eleitoral. Justas ou não, as críticas feitas a Gabeira não apagam sua autonomia no Congresso, sua independência diante de enquadramentos partidários e ideológicos que agradam muito a esquerda mas que têm se mostrando um fiasco em diversas ocasiões (vide expulsão dos "radicais" do PT e rachas dentro do PSOL). É isso! O voto em Gabeira não é ideológico, se é que isso é possível. Um voto pragmático que foge ao esquema Jandira-Chico-Molon, esquema sacralizado pela esquerda, sempre afeita a olhar para os defeitos alheios mas incapaz de refletir sobre os seus.

Na falta de opção vou ao centro espírita e tento um contato com Vargas. Quem sabe ele e alguns dos seus ministros consigam dar uma elevada em nossas idéias? Não abriria mão da metralhadora, se tivesse essa opção. Enquanto não tenho, fico aqui, do lado de , tentando ocupar os espaços tomados por milícias bárbaras e igrejas irracionais.


Abraços sinceros,

Marcio Andrade