domingo, 5 de julho de 2009

Da série antropomorfia - Os superpredadores

Talvez seja angustiante por conta de nossas crenças antropológicas, mas o fato é que compartilhamos, juntamente com leões, tubarões, lobos e outros seres a condição de superpredadores, ou seja, de animais que ocupam o topo da cadeia alimentar. Angustiante, talvez, por sabermos que a nossa posição de destaque não foi capaz de nos transformar, apesar da interação inevitável com a cultura, em seres melhores e mais equilibrados.

No Brasil, considerado privilegiado em sua biodiversidade, a extinção de alguns superpredadores históricos desencadeou um processo de rearranjo na cadeia alimentar. De acordo com os especialistas, o clima catastrófico dos dias atuais, somado a morte de algumas espécies de RAPOSAS e MACACOS, abriu espaços para que seres intermediários ocupassem o topo. No estado de São Paulo, por exemplo, a poluição imperante acabou por completo com o equilíbrio ecológico, permitindo a inusitada prevalência dos SAPOS e TUCANOS sobre todos os outros animais. Segundo a bióloga Márcia Glenadel, do Departamento de Zoologia da USP, o sapo da espécie "Bufo barbudensis" e o tucano "Ramphastos alckiminus" chegaram ao cume utilizando-se de estratégias simples mas eficazes no processo de seleção natural.


Hábil na arte da metamorfose, o "Bufo barbudensis" impõe sua supremacia inflando-se desmedidamente, o que lhe dá uma feição grandiosa e valente. Possuidor de cerdas faciais, esta espécie emite sons incomuns, tornando-se realmente assustadora quando se encontra sob ameaça. Mais discreto e aparentemente inofensivo, o "Ramphastos alckiminus" elimina os adversários por meio de suas fezes tóxicas. Em contato com qualquer superfície, o material fecal deste tucano assume uma coloração dourada e atraente, derivando deste fato o nome "alckiminus" (uma referência aos alquimistas medievais). Em comum estes dois exemplares possuem o hábito de viverem harmoniosamente, numa perfeita simbiose, com todas as espécies de RATOS e PORCOS.


Em tempos de ilusionismo animalesco, nós da espécie Homo sapiens sapiens corremos grande perigo. Baseando-se nas considerações do italiano Giovanni Sartori, que afirma a prevalência contemporânea da espécie Homo videns (organiza sua conduta apenas por meio das sensações, das emoções propiciadas pela habilidade visual), o renomado cientista brasileiro Roberto Bitencourt emite o alerta: - No Brasil, cepas inteiras de petistas pertencem a esta nova espécie. Marqueteiros e pseudo-intelectuais têm criado o caldo de cultura necessário à proliferação da mesma. Se este processo continuar, em poucos anos o Homo sapiens sapiens não será mais do que um mero vestígio, soterrado por belas imagens e discursos superficiais.


(texto redigido em 25 de outubro de 2006 para as eleições presidenciais)

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