Segundoumamigomeu, durante o regimemilitar os membros do Exército identificados com o Socialismo eram chamados, porseussuperiores, de MELANCIA. A razãoerasimples: nacionalistas porfora, alimentavam uma paixãointernapelos "vermelhos".
Hoje, mais de vinte anosapós a saída do últimogeneral da presidência da República, vivemos uma situaçãoquase inversa. Emtempos de alteração genética, a melancia inverteu suascores. A metáfora, apesar de nãosertão sofisticada quanto às do nossopresidente, serve parailustrar os diasatuais.
Vermelhaporfora, a trepadeira da espéciePolimorphus trambiqueirus é extremamenteverde e amargapordentro. Dentro de suacascadura, quaseimpenetrável, a poupa - supostamente o melhor do fruto - conserva-se verde e imaturadurantetodo o ciclo de vida da cucurbitácea. Orgulhosos, os cientistasresponsáveispelaexperiência afirmam que o vermelhoencarnado da casca é extremamenteatraente aos consumidores, diferenciando-se de tudo o que havia existido atéentãoemmatéria de melancia. Com a palavra, o biólogo russo JOSEPH S. DIRCEUKOVSK: - Nossamelancia representa uma revolução e não tem nada a vercom aquelas velhas melancias esverdeadas do passado. Cultuamos o novo. O belo está na novidade!
O que Dirceukovsk não explicou é que a Polimorphus é muitosensível às intempéries e que se corrompe commuitafacilidade e rapidez. Diante deste fato, podemos tirar uma das poucas conclusões inequívocas para o ano de 2006: agoraemoutubro teremos uma eleição HORTIFRÚTICA. De umlado o CHUCHU, coincidentemente uma trepadeiratambém pertencente à família das cucurbitáceas Do outro, umespécime da Polimorphus trambiqueirus, que, apesar da propalada inovaçãopositiva, não tem sido muitoentre os consumidoresmaisexigentes. bem-aceita
É só uma questão de tempo: nospróximosquatroanos continuarão a aparecer, inevitavelmente, as abobrinhas, os abacaxis e os pepinos. Enquantoisso, nós, o povo, continuaremos com a nossabatata assando e recebendo bananas dos donos da quitanda.
PS: Escritocom a letra "X", XUXU significa queouquem é mauou endiabrado; queouquemnão é limpo. Será esteumcritériorelevantepara escolhermos a melancia?
(Texto redigido em 16 de outubro de 2006 para as eleições presidenciais.)
Talvez seja angustiante por conta de nossas crenças antropológicas, mas o fato é que compartilhamos, juntamente com leões, tubarões, lobos e outros seres a condição de superpredadores, ou seja, de animais que ocupam o topo da cadeia alimentar. Angustiante, talvez, por sabermos que a nossa posição de destaque não foi capaz de nos transformar, apesar da interação inevitável com a cultura, em seres melhores e mais equilibrados. No Brasil, considerado privilegiado em sua biodiversidade, a extinção de alguns superpredadores históricos desencadeou um processo de rearranjo na cadeia alimentar. De acordo com os especialistas, o clima catastrófico dos dias atuais, somado a morte de algumas espécies de RAPOSAS e MACACOS, abriu espaços para que seres intermediários ocupassem o topo. No estado de São Paulo, por exemplo, a poluição imperante acabou por completo com o equilíbrio ecológico, permitindo a inusitada prevalência dos SAPOS e TUCANOS sobre todos os outros animais. Segundo a bióloga Márcia Glenadel, do Departamento de Zoologia da USP, o sapo da espécie "Bufo barbudensis" e o tucano "Ramphastos alckiminus" chegaram ao cume utilizando-se de estratégias simples mas eficazes no processo de seleção natural. Hábil na arte da metamorfose, o "Bufo barbudensis" impõe sua supremacia inflando-se desmedidamente, o que lhe dá uma feição grandiosa e valente. Possuidor de cerdas faciais, esta espécie emite sons incomuns, tornando-se realmente assustadora quando se encontra sob ameaça. Mais discreto e aparentemente inofensivo, o "Ramphastos alckiminus" elimina os adversários por meio de suas fezes tóxicas. Em contato com qualquer superfície, o material fecal deste tucano assume uma coloração dourada e atraente, derivando deste fato o nome "alckiminus" (uma referência aos alquimistas medievais). Em comum estes dois exemplares possuem o hábito de viverem harmoniosamente, numa perfeita simbiose, com todas as espécies de RATOS e PORCOS. Em tempos de ilusionismo animalesco, nós da espécie Homo sapiens sapiens corremos grande perigo. Baseando-se nas considerações do italiano Giovanni Sartori, que afirma a prevalência contemporânea da espécie Homo videns (organiza sua conduta apenas por meio das sensações, das emoções propiciadas pela habilidade visual), o renomado cientista brasileiro Roberto Bitencourt emite o alerta: - No Brasil, cepas inteiras de petistas pertencem a esta nova espécie. Marqueteiros e pseudo-intelectuais têm criado o caldo de cultura necessário à proliferação da mesma. Se este processo continuar, em poucos anos o Homo sapiens sapiens não será mais do que um mero vestígio, soterrado por belas imagens e discursos superficiais.
(texto redigido em 25 de outubro de 2006 para as eleições presidenciais)
O povobrasileiro é realmenteexcepcional, pois conseguiu reeditar, emtermosmodernos e democráticos, a condiçãohistórica de Jesus de Nazaré. Agora a verdadenão se revelou pormeio de línguas mortas e pretéritas, porintermédio de traduções equivocadas e confusas da Bíblia. Nostemposmodernos, Cristo foi eleito graças à mídia e aos milhões de telefonemas e cliques na Internet.
É fato, porém, que a democraciaainda apresenta suasimperfeições. No passado, o Redentor teve maisprestígio: emseunome houve Cruzadas, sangrentosconflitosreligiosos, extermínio de indígenas e outras iniciativas maravilhosas da humanidade, que procurava elevar o nome do Salvador. Nosdias de hoje, ao contrário, Cristo teve que se contentarcomumterceirolugar. À suafrente estão a Muralha da China, estefenômeno mundial que se expande com pastéis e bugigangaspiratas, e Petra, na Jordânia, cujaescolha constitui umindício da força representada poraquelespovosterroristas vindos do OrienteMédio.
O bom de tudoisso é que os europeus e norte-americanos ficaram fulos. Andaram dizendo, inclusive, que o Brasil só ganhou portermais de 180 milhões de habitantes, o que prejudicou paísescomo a Espanha e a Grécia, cocozitos populacionais. Quemmandou se reproduzirem pouco?! A França contestou o númerototal de votos, insatisfeita que está com a não-eleição daquele esqueleto de lataqueeles chamam de Torre. Os Estados Unidos, coitados... a Estátua da Liberdade, bem-representada nas iniciativas “libertárias” dos últimos 20 presidentesnorte-americanos, não conseguiu chegarnemperto.
Devo admitirquenão votei nem votaria no Cristo. Nãoqueeunão goste deles (do bíblico e da estátua). Tambémnão é porantipatia à cidade do Rio de Janeiro, afinal tenho orgulho de ser são-cristovense e carioca. Sei que poderá parecerexagero, mas a eleição do CristoRedentor, obraque demorou poucomais de cincoanosparaser finalizada, expressaumpouco do que somos: uns preguiçosos deslumbrados. Queremos termaravilhas, queremos sermaravilhosos, masnos esforçamos muitopoucoparaisso. O quevale, no fundo, são as aparências e as opiniões elogiosas da gringalhada espertalhona.
E o Lula, hem? Do jeitoqueelegosta do Rio e do Brasil, deve ter votado secretamente no monumento ao Imigrante Italiano.
Com a nossacapacidade de reinventarmos o quejá está posto, acabamos criando uma novaorigempara a palavratragédia, que na Grécia antiga significava “canto do bode” (ou “canto ao bode”, segundoalguns).Mascomonãopegabem, nosdias de hoje, ficarmos cantando paracaprinos (prática de gregosímpios e bêbados), trocamos o CD e passamos a ouviroutramúsica e a teroutroobjeto de veneração. A novaonda é o “canto ao BOPE” (ou “canto do BOPE”, tanto faz).
Nestas últimas semanas, parentes e amigos, reacionários e progressistas, bebês e idosos foram unânimes nas considerações elogiosas sobre a maisrecentefebre do mercadoparalelocinematográficonacional: o filmeTropa de Elite. Admito que tentei resistir, mas o cerco ficou insuportável. Apósconversarcomumtaxista, que regozijava-se e contorcia-se ao descrevercadacena do filme, decidi ceder aos encantos dos amigoscamelôs. Antes disso, porém, tive a oportunidade de efetuar a apreensão de um DVD, portado porum cidadão-aluno meu, uma criança de 11 anosque tentava, entusiasticamente, reproduziremseucadernoescolar o crânio perfurado comumpunhal, desenholúdicoque ilustrava a mídiapirata.
Ansiosoporcompartilhar das mesmas emoções vividas pelosamigos, embarquei na história narrada e curti cada “pipoco” dadoporvagabundos e policiais, cadatapa e tortura empreendidos pelosagentes do BOPE. Não tenho dúvidas, Tropa de Elite é umótimofilme de ação. Ao final da película, tive a quasecerteza de que os problemas da violência estariam resolvidos se os “homens de preto” fossem emmaiornúmero e tivessem maisespaçoparaagir. A conclusão é lógica: se reprimirmos os pobres, os policiaiscorruptos e a classemédia consumidora (travestida de elite no filme), conseguiremos sufocar, estrangular e extirpar o cancrosocial das drogas. Jáme imagino comumfuzil na mão, dando tirocomoumCapitão Nascimento. Celebremos a maisnova e genuínatragédianacional!
A pergunta da vez, no entanto, feitaporumdelegado da PolíciaCivil, é a seguinte: o Rex morde o dono? Se o dono é corrupto e bandido, o Rex vai latir, morder e matarsomentequem o dono quiser. Istome parece maislógico!
Abraços Marcmagand
PS: Cabralito, nossogovernador, disse ter ficado impressionado com as cenas de corrupção e tortura, com a bagunçanosbatalhões e com o estadoprecário das viaturaspoliciais. É espantosocomo a arte pode serdidáticapara os políticosingênuos e bem-intencionados (inclusiveparaaquelesque recebem propinadesde a maistenraidade).