sábado, 22 de junho de 2013

Vaca Fria

Li e gostei bastante dos textos de Luiz Eduardo Soares (http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2013/06/22/luiz-eduardo-soares-que-vem-depois-da-queda-da-tarifa-500795.asp) e José Murilo de Carvalho sobre as manifestações (http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/jose-murilo-de-carvalho-povo-brasileiro-despertou-de-letargia/). Por um motivo simples: fazem um esforço de análise sem apresentar certezas sobre o que é ou o que será o movimento. 
O óbvio se coloca (pelo menos para mim, que não tenho acompanhado tão de perto as manifestações): da pluralidade das pessoas que compõem as redes sociais dificilmente poderia surgir algo uno, homogêneo. Por mais que tenhamos vontade de enxergar na força da massa o potencial para a conquista de nossas próprias bandeiras, dificilmente teremos em um movimento como este a concretização precisa de um item X ou Y de nossas próprias plataformas políticas e sociais.
A "vaca fria", na minha avaliação, seriam as conquistas para o sistema público de transporte. Mas sinceramente não lembro de ter lido nenhuma consideração mais aprofundada a respeito. Das passagens de ônibus poderíamos discutir sobre as empresas de ônibus, sobre os critérios de concessão, sobre trens, metrô, barcas, vlts etc, mas tudo acabou sendo atropelado pela ânsia de conquistarmos, de supetão, todos outros pontos precários que certamente carecem de soluções também imediatas (saúde e educação - para as quais Dilma propõe importação de mão-de-obra, habitação, reforma agrária, questão indígena etc.)
Tenho uma única consideração sobre o texto de Luiz Eduardo, que não chega a ser divergente, mas imagino complementar. Nossa polícia é, sim, violenta, truculenta. E isso não é de hoje. Até aí, necas! Todos sabemos disso. O que muitos não costumam dizer é que somos todos, na sociedade brasileira, violentos. Tudo não passa de uma questão de oportunidade.
Ontem presenciei duas menores, provavelmente moradoras de rua e talvez usuárias de crack, entrando no 665 (Saens Pena - Pavuna). Depois de entrarem sem autorização, por trás, foram obrigadas a descer. Diante da negativa de motorista e trocador, uma das meninas deu uma cusparada no segundo. Os dois desceram e ameaçaram verbalmente a menina. Certamente acostumada com relações violentas, a adolescente não se intimidou, xingou e deu outra catarrada no trocador. O motorista, que se disse morador de favela e ameaçou a menina com a entrega dela para o líder do tráfico, foi surpreendido quando, ao voltar para o ônibus, recebeu socos e chutes da moçoila. Diante deste fato, não hesitou: partiu para cima da menina com socos e chutes. Antes que que eu gritasse para que ele simplesmente a segurasse e a entregasse à PM, um policial apareceu e interrompeu a agressão.
Dentro do ônibus, pessoas comuns, homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, quiçá pobres também favelados, urravam e pediam mais pancadas na menina e criticavam a vaga noção sobre direitos humanos e direitos do menor.
Honestamente não creio que seja uma simples reprodução de ideologias forjadas por uma elite perversa. São humanos. Somos humanos. Repletos de contradições, virtudes e defeitos. Desconsiderar isto e idealizar determinados personagens por conta, única e exclusivamente, de sua condição social me parece um erro crasso.

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