sábado, 18 de agosto de 2012

Uma sociedade de direitos e de ... O gato comeu: uma provocação aos amigos grevistas (ou Viva Dilma - quem diria?)


Não sou muito fã de citações, mas lançarei mão de quatro, bem rapidinhas.


“Art. 9 É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1 A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2 Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.”
Constituição Federal Brasileira de 1988

“Só eu não posso fazer greve. Tô duro, sem dinheiro no bolso.”
Raimundo, mulato, paraibano, ascensorista do Edifício Anglia, no Centro do Rio. Frase proferida depois de ver grevistas se confraternizando no bar Amarelinho da Cinelândia, após passeata.


“Assim, todos os membros do Instituto (Oswaldo Cruz) encontram-se no almoço. Eles não comem apressadamente como se come a merenda no Japão. Comem devagar, conversando e saboreando o prato. E levam cerca de meia hora para tomar café, que vem depois do almoço. Esse hábito pareceu-me muito bom para cultivar amizade e manter a harmonia no sanatório. (...) Os visitantes deste navio ficarão deveras surpresos ao ver os cientistas japoneses comerem merenda na marmita de alumínio em apenas 5 minutos”.
Médico japonês Fumio Hayashi, quando visitou instituições de saúde brasileiras, em 1934.


“Essa é a beleza da argumentação. Se argumentar bem, nunca estará errado”.
Nick Naylor (Aaron Eckhart), personagem do filme Obrigado Por Fumar.


Começo de trás pra frente.
Os argumentos são ou parecem ótimos. Ainda mais quando feitos por grupos intelectualmente preparados para argumentações sofisticadas e corporativistas, democráticas e progressistas.
Quem de nós não deseja serviços públicos de qualidade? Quem de nós não deseja bons salários e vida confortável? E que tal um país mais justo e próspero?
Em tese, todos desejamos. Mas o que tem sido feito para conquistarmos tudo isso? Greve e palavras de ordem?
Na década de 1930, Fumio Hayashi registrou interessante hábito de médicos e cientistas que compunham a elite do serviço público nacional: horas e horas de conversas no almoço e nos corredores eram ótimas para a amizade, mas péssimas ao bom andamento da coisa pública. 
Uma vida não estressante, calma, com bom aproveitamento das relações pessoais e familiares é o que todos merecem. Todos, inclusive Raimundo, mulato, paraibano. Mas Raimundo e tantos outros não podem, infelizmente, injustamente. Ele e uma boa parcela da população acordam às 4h para pegar ônibus e trem e para abrir bares, padarias e restaurantes que servirão almoço, pãozinho e cafezinho a muitos. Inclusive aos funcionários públicos que lutam tão aguerridamente por melhores salários. Pergunto: e a filha e esposa de Raimundo, poderão fazer uso adequado do SUS, dos hospitais e escolas que se encontram paralisados? Não venham dizer que os plantões de grevistas dão conta do recado. Se em condições normais as reclamações sobre a falta de pessoal pululam, imaginem em períodos de greve.
Corretos ou não, os grevistas devem estar cientes de que alguém pagará a conta mais cara. Dificilmente será o próprio servidor, que, na pior das hipóteses, ficará mais apertado para custear as viagens fora de época e os biricoticos no Amarelinho, Bar do Adão e Belmonte.

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